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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

APOLOGIA A ACROBACIA

Texto: Laert Silva Gouvêa.


"...melhor de tudo isso, é que ao contrário dos vôos de rota, o treinamento do vôo acrobático é extraordinariamente prazeroso."

Qualquer um que me escute falando sobre acrobacia aérea sabe que sou suspeito, meu passado como instrutor de acrobacia e piloto de demonstrações aéreas me condena. Mas a verdade é que sou um grande incentivador e divulgador desta atividade por diversos motivos, um deles em especial, eu defendendo nas linhas seguintes por estar ligado diretamente a nossa atividade de pilotos de linha aérea. Também acho que uma revista técnica, apesar de sua vocação, pode e deve ser também de leitura agradável, com textos de interesse geral que nos remetam as nossas paixões e sonhos. Por este motivo faço aqui minha apologia.
Como esporte a acrobacia é extremamente saudável, exige um bom condicionamento físico e trabalha os músculos do corpo inteiro. Para quem duvida, basta um 360° em vôo invertido para saber do que eu estou falando. Como higiene mental e relaxamento também é excelente, duvido que alguém lembre dos problemas cotidianos depois de meia volta de parafuso, se for negativo então... Entretanto, o maior benefício que esta modalidade esportiva oferece, pode favorecer a todos que exerçam sua profissão atrás de um manche ou ao lado de um sidestick. Este ainda é um assunto polêmico entre pilotos, porém conquista cada vez mais simpatizantes e a idéia atrai um número crescente de interessados nas técn icas de recuperação de atitudes anormais.
Este estímulo a acrobacia é reforçado por diversos colegas acrobatas e ex-militares que voam comercialmente hoje, todos são unânimes ao afirmar que a auto-segurança e a consciência situacional são só algumas das muitas qualidades que a acrobacia pode somar as técnicas de pilotagem. Além disso, inúmeras ocorrências em vôo já provaram esta teoria.
Por se tratar de um vôo extremamente técnico, a acrobacia desenvolve naturalmente diversas afinações no perfil de um piloto. Um simples traslado em um avião de acrobacia já é uma boa experiência de planejamento técnico, as aeronaves são todas instáveis por natureza, sem piloto automático e com baixíssima autonomia. Todos estes aspectos forçam o piloto a uma conduta assertiva e contribuem em muito para uma boa formação. Mas o que faz mesmo a diferença, são as manobras avançadas, onde os pilotos estão sempre desenvolvendo e treinando involuntariamente diversos sentidos necessários a uma boa pilota gem. Este “feeling” mais desenvolvido é que faz a diferença durante os vôos normais, quando o piloto passa a sentir as atitudes e velocidades também através das respostas de seus próprios sentidos, proporcionando uma sensação maior de segurança por estar menos dependente dos instrumentos. E em falar nisso, pelo pouco que já mostramos podemos afirmar ainda, que a acrobacia contribui com o fator mais importante na formação de um aviador, a “segurança”. A imediata identificação e o condicionamento automático para recuperação de atitudes anormais é a maior qualidade do treinamento destes pilotos.
Entre as muitas dádivas deste esporte, as que mais importam para os aviadores são as seguintes habilidades:
Acuidade”, uma proficiência que significa basicamente segurança quando aumenta a percepção do piloto em relação às atitudes da aeronave. A acrobacia de competição é excelente para desenvolver a acuidade de um piloto, pois todas as manobras são executadas em relação atitude de vôo e horizonte.
Poder analíticov”, favorece no julgamento em relação as mais diversas situações de vôo e conseqüentemente a uma ação preventiva em relação as tendências conhecidas. Ajuda basicamente nas ações preventivas involuntárias, que passam a estar embutidas no comportamento operacional do piloto. 

Descontração”, um comportamento desejável em situações de uso ou abuso de comandos e também em relação as situações de tensões repentinas provocadas por proximidades aos limites humanos ou técnicos. Faz toda a diferença quando se entra em atitude anormal, que pode parecer perfeitamente normal a um piloto acrobático.
Atenção”, não que outros pilotos tenham menos, mas o acrobata tem o cuidado em relação aos envelopes de alturas e velocidades de maneira basicamente instintiva, uma vez que o vôo acrobático é um jogo do cruzamento destes valores limitado pelo solo e velocidades limites.
Feeling”, talvez mais conhecido entre os aviadores como “Mão de Veludo” ou “Ponta dos Dedos”. Esta habilidade dá ao aviador uma melhor percepção ao puxar “G” em grandes e a baixas velocidades e a sobra ou administração de comandos próximo ao estol. Há situações em que a “puchada” pode fazer a diferença entre a recuperação de um mergulho ou a entrada de em um “estol de alta” em direção ao solo.
Acertabilidade”, esta palavra estranha ao “Aurélio” pode significar o poder de decidir a maneira correta para se recuperar uma atitude anormal principalmente a baixas alturas durante aproximações desestabilizadas por esteiras de turbulência onde não se tem tempo ou altura para erros. Esta questão também é vital a segurança, uma vez que recicla maus hábitos de pilotagem como elevar “pitch” antes de restabelecer sustentação ou sair de um vôo invertido puxando o manche, instintos comuns e assassinos nas atitudes anormais próximas ao solo.  

Acho que poderia até citar mais algumas várias vantagens deste esporte maravilhoso, mas acho que estas já são suficientes para ilustrar o quanto um piloto pode ganhar praticando a acrobacia aérea. E o melhor de tudo isso, é que ao contrário dos vôos de rota, o treinamento do vôo acrobático é extraordinariamente prazeroso. Longe de ser enfadonho e maçante com horas em sala de aula e simuladores, o treinamento todo é prático, desafiador e muito gratificante pela rápida evolução. Um curso básico pode ser completado em apenas dez horas de vôo. Estes vôos têm toda a satisfação e emoção encontrada somente nos esportes radicais a motor, po tencializada pelo extraordinário cenário onde se realiza, pelo qual somos todos apaixonados. O fato é que acrobacia se aprende fazendo uma das coisas que você mais gosta, pilotando, ou melhor ainda, virando loopings, tunneaux, dançando e brincando no céu.
Além destas todas, uma outra grande vantagem tem que ser lembrada antes de terminarmos o assunto: é o fato de que não há limitações, assim como trair e coçar, qualquer piloto pode fazer um curso e começar. O objetivo de minha apologia é incentivar e motivar a todos para a prática de um esporte que une as vantagens do condicionamento físico as do condicionamento técnico. Fica aqui nosso convite!

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