Texto: Laert Silva Gouvêa.
"...melhor de tudo isso, é que ao contrário dos vôos de rota, o treinamento do vôo acrobático é extraordinariamente prazeroso."
Qualquer um que me escute
falando sobre acrobacia aérea sabe que sou suspeito, meu passado como
instrutor de acrobacia e piloto de demonstrações aéreas me condena. Mas a
verdade é que sou um grande incentivador e divulgador desta atividade
por diversos motivos, um deles em especial, eu defendendo nas linhas
seguintes por estar ligado diretamente a nossa atividade de pilotos de
linha aérea. Também acho que uma revista técnica, apesar de sua vocação,
pode e deve ser também de leitura agradável, com textos de interesse
geral que nos remetam as nossas paixões e sonhos. Por este motivo faço
aqui minha apologia.
Como esporte a acrobacia é
extremamente saudável, exige um bom condicionamento físico e trabalha
os músculos do corpo inteiro. Para quem duvida, basta um 360° em vôo
invertido para saber do que eu estou falando. Como higiene mental e
relaxamento também é excelente, duvido que alguém lembre dos problemas
cotidianos depois de meia volta de parafuso, se for negativo então...
Entretanto, o maior benefício que esta modalidade esportiva oferece,
pode favorecer a todos que exerçam sua profissão atrás de um manche ou
ao lado de um sidestick. Este ainda é um assunto polêmico entre pilotos,
porém conquista cada vez mais simpatizantes e a idéia atrai um número
crescente de interessados nas técn icas de recuperação de atitudes
anormais.
Este estímulo a acrobacia é
reforçado por diversos colegas acrobatas e ex-militares que voam
comercialmente hoje, todos são unânimes ao afirmar que a auto-segurança e
a consciência situacional são só algumas das muitas qualidades que a
acrobacia pode somar as técnicas de pilotagem. Além disso, inúmeras
ocorrências em vôo já provaram esta teoria.
Por se tratar de um vôo
extremamente técnico, a acrobacia desenvolve naturalmente diversas
afinações no perfil de um piloto. Um simples traslado em um avião de
acrobacia já é uma boa experiência de planejamento técnico, as aeronaves
são todas instáveis por natureza, sem piloto automático e com
baixíssima autonomia. Todos estes aspectos forçam o piloto a uma conduta
assertiva e contribuem em muito para uma boa formação. Mas o que faz
mesmo a diferença, são as manobras avançadas, onde os pilotos estão
sempre desenvolvendo e treinando involuntariamente diversos sentidos
necessários a uma boa pilota gem. Este “feeling” mais desenvolvido é que
faz a diferença durante os vôos normais, quando o piloto passa a sentir
as atitudes e velocidades também através das respostas de seus próprios
sentidos, proporcionando uma sensação maior de segurança por estar
menos dependente dos instrumentos. E em falar nisso, pelo pouco que já
mostramos podemos afirmar ainda, que a acrobacia contribui com o fator
mais importante na formação de um aviador, a “segurança”. A imediata
identificação e o condicionamento automático para recuperação de
atitudes anormais é a maior qualidade do treinamento destes pilotos.
Entre as muitas dádivas deste esporte, as que mais importam para os aviadores são as seguintes habilidades:
“Acuidade”, uma
proficiência que significa basicamente segurança quando aumenta a
percepção do piloto em relação às atitudes da aeronave. A acrobacia de
competição é excelente para desenvolver a acuidade de um piloto, pois
todas as manobras são executadas em relação atitude de vôo e horizonte.
“Poder analíticov”, favorece
no julgamento em relação as mais diversas situações de vôo e
conseqüentemente a uma ação preventiva em relação as tendências
conhecidas. Ajuda basicamente nas ações preventivas involuntárias, que
passam a estar embutidas no comportamento operacional do piloto.
“Descontração”, um
comportamento desejável em situações de uso ou abuso de comandos e
também em relação as situações de tensões repentinas provocadas por
proximidades aos limites humanos ou técnicos. Faz toda a diferença
quando se entra em atitude anormal, que pode parecer perfeitamente
normal a um piloto acrobático.
“Atenção”, não que
outros pilotos tenham menos, mas o acrobata tem o cuidado em relação
aos envelopes de alturas e velocidades de maneira basicamente
instintiva, uma vez que o vôo acrobático é um jogo do cruzamento destes
valores limitado pelo solo e velocidades limites.
“Feeling”, talvez
mais conhecido entre os aviadores como “Mão de Veludo” ou “Ponta dos
Dedos”. Esta habilidade dá ao aviador uma melhor percepção ao puxar “G”
em grandes e a baixas velocidades e a sobra ou administração de comandos
próximo ao estol. Há situações em que a “puchada” pode fazer a
diferença entre a recuperação de um mergulho ou a entrada de em um
“estol de alta” em direção ao solo.
“Acertabilidade”,
esta palavra estranha ao “Aurélio” pode significar o poder de decidir a
maneira correta para se recuperar uma atitude anormal principalmente a
baixas alturas durante aproximações desestabilizadas por esteiras de
turbulência onde não se tem tempo ou altura para erros. Esta questão
também é vital a segurança, uma vez que recicla maus hábitos de
pilotagem como elevar “pitch” antes de restabelecer sustentação ou sair
de um vôo invertido puxando o manche, instintos comuns e assassinos nas
atitudes anormais próximas ao solo.
Acho que poderia até
citar mais algumas várias vantagens deste esporte maravilhoso, mas acho
que estas já são suficientes para ilustrar o quanto um piloto pode
ganhar praticando a acrobacia aérea. E o melhor de tudo isso, é que ao
contrário dos vôos de rota, o treinamento do vôo acrobático é
extraordinariamente prazeroso. Longe de ser enfadonho e maçante com
horas em sala de aula e simuladores, o treinamento todo é prático,
desafiador e muito gratificante pela rápida evolução. Um curso básico
pode ser completado em apenas dez horas de vôo. Estes vôos têm toda a
satisfação e emoção encontrada somente nos esportes radicais a motor, po
tencializada pelo extraordinário cenário onde se realiza, pelo qual
somos todos apaixonados. O fato é que acrobacia se aprende fazendo uma
das coisas que você mais gosta, pilotando, ou melhor ainda, virando
loopings, tunneaux, dançando e brincando no céu.
Além destas todas,
uma outra grande vantagem tem que ser lembrada antes de terminarmos o
assunto: é o fato de que não há limitações, assim como trair e coçar,
qualquer piloto pode fazer um curso e começar. O objetivo de minha
apologia é incentivar e motivar a todos para a prática de um esporte que
une as vantagens do condicionamento físico as do condicionamento
técnico. Fica aqui nosso convite!
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