Texto: Jorge Ricardo González.
"...Com envergadura de mais de 33 metros e capacidade para até 1.270kg de carga útil, eles tranpostaram..."
Talvez o maior interesse do leitor por esta matéria
esteja no fato de que ela trata de uma espécie já extinta: os planadores
de combate. Sua utilização estendeu-se por cerva de cinco anos em
missões especificas durante a segunda grande guerra e depois disso
jamais se teve noticia de que algum planador do tipo tivesse novamente
decolando, nem mesmo nos conflitos posteriores.
A evolução da tecnologia militar, das táticas de
guerra, dos aviões, dos mísseis, do pára-quedismo e principalmente a
invenção e a rápida evolução dos helicópteros tornara obsoleta a
utilização dos planadores de combate.
Na segunda grande guerra, contudo, os planadores
viveram seus dias de gloria, como o único meio capaz de transportar para
assalto em território inimigo grupos de soldados completamente
equipados (prontos para imediatamente entrar em combate) e ainda
munições, suprimentos, jipes, caminhões leves e até tanques de guerra.
Os pára-quedistas da época só podiam transportar
uma quantidade muito limitada de equipamentos individuais (armas,
munições, suprimentos) e aterrissavam longe uns dos outros, dispersos
pelo vento e pelas condições imprecisas de lançamentos. Isso impedia que
entrassem rapidamente em combate com um grupo organizado.
Em varias missões em que foram utilizados, os
planadores de combate, por não produzirem qualquer ruído, adicionaram
maior surpresa aos ataques.
Construídos com madeira, tubos de aço soldados e
revestidos com lona, eram lentos e totalmente desprotegidos do fogo
antiaéreo e até mesmo dos tiros de armas leves. Por isso ganharam
apelidos carinhosos, tais como “iscas para fogo antiaéreo” e “caixões
voadores”.
No lado aliado, os pilotos de planadores nunca
tiveram o seu valor reconhecido, nem mesmo após a guerra. Devido às
circunstancias da época, foram aceitos para essa missão alunos
reprovados das escolas aeronáuticas, pilotos ou alunos que haviam sido
reprovados nos exames médicos e até mesmo homens de mais idade e que não
haviam sido aceito como pilotos de caça ou de bombardeiros.
O treinamento que lhes proporcionavam era na
grande maioria das vezes insuficiente e falho. Apenas uma minoria
recebeu o necessário treinamento de infantaria, pois uma vez pousado o
planador, piloto e co-piloto se viam obrigados a participar dos combates
em terra!
Os pilotos de planadores tiveram de enfrentar, em
vôos só de ida, além do fogo inimigo, o mau tempo, missões mal
planejadas pelos superiores, revoques realizados por pessoas totalmente
inexperientes e despreparados, planadores que perdiam pedaços durante o
vôo, cabos de reboque defeituosos que se rompiam a falta de treinamento
para combate em terra e em algumas ocasiões até mesmo o fogo antiaéreo
dos próprios aliados. Muitas das missões resultaram em enormes perdas,
não apenas de planadores, como também de homens, algumas delas
registraram baixas de 50% do efetivo.
Tanto no caso dos alemães como no dos americanos e
ingleses, este tipo de aeronave pertencia às divisões aerotransportadas
e muitas missões contaram com a participação conjunta de planadores e
pára-quedas.
Alemanha Pioneira
Os planadores de combate foram utilizados pela
primeira vez pelos alemães, que os desenvolveram significativamente,
sobretudo após a Primeira Grande Guerra, uma vez que haviam sido
praticamente impedidos de utilizar aviões a motor por força do Tratado
de Versalhes.
Nesse meio tempo, entre 1932 e 1935, a Bélgica
havia construídos um forte com objetivo de evitar as invasões alemães.
Escavando na rocha e com paredes de concreto de 1,5m de espessura, o
forte Eben Emael era praticamente subterrâneo, com guarnições alojadas
muitos metros abaixo do nível do solo e suprimento para dois meses. Pelo
lado de fora, eram visíveis apenas uma área gramada com cerca de mil
metros de comprimento e 700 na parte mais larga, as cúpulas de concreto
da artilharia e as trincheiras para a infantaria. O forte era
considerado inexpugnável.
Elaborado o plano – Operação Granito – e após
cuidadosa preparação, na madrugada de 10 de maio de 1940, os alemães
atacaram o Eben Emael com planadores modelo DFS 230, nove deles foram
rebocados por aviões JU-52, dos quais se desligaram sobre a Holanda,
próximos à fronteira Belga e ao forte.
Não tendo sido detectados pelos aparelhos
amplificadores de som e pouco visíveis ao amanhecer os planadores
pousaram sobre o forte sem serem percebidos. Os alemães dominaram a
guarnição externa do forte (os canhões das torres não tinham ângulo para
atirar sobre o teto do próprio forte!) e explodiram as torres com
cargas especiais recém-desenvolvidas.
No dia seguinte, a infantaria alemã chegou
cruzando a Holanda. O forte estavam dominando por fora e a guarnição
interna (o total era de 850 homens), que havia sofrido pesadamente os
efeitos das explosões.
Das torres, rendeu-se em seguida. Dos 78 alemães que pousaram e dominaram o forte, apenas seis morreram.
Os planadores DFS 230 utilizados tinham as seguintes características básicas:
-Iniciaram os testes em janeiro de 1937
-Um só piloto
-Envergadura: 22m
-Comprimento: 11,4m
-Velocidade de reboque: 120mph (193 km/h)
-Quantidade fabricada: 2.230 unidades
-Carga útil: 1.270kg
-Peso bruto: 2.090kg
-Fuselagem em tubos de aço, revestida com tecido de dope.
-Asas de madeira revestidas com compensado
-Spoilers na parte superior das asas eram largadas após a decolagem só patim para pouso, sob a fuselagem.
Os planadores DFS 230 foram ainda utilizados em diversas missões, além da Operação Granito:
Operação Aço, Concreto e Ferro, quando foram tomadas três pontes no rio Meuse.
Abril de 1942: seis DFS 230 (36 homens) pousaram junto à ponte do canal de Corinto, tomando-a dos ingleses e gregos.
20 de maio de 1941: Operação Mercúrio na invasão alemã da ilha de Creta – 75 DFS 230 e pára-quedistas.
As perdas alemãs durante a invasão de Creta
somaram cinco mil homens. Hitler ordenou então que não fossem mais
utilizadas operações aerotransportadas em larga escala.
Mesmo assim, os alemães utilizaram ainda planadores nas seguintes missões:
12 de setembro de 1943: resgate de
Mussolini com planadores na montanha Abruzzi, a 100 km a noroeste de
Roma, onde estava prisioneiro da policia italiana.
21 de julho de 1944: Planadores pousaram
em vários pontos da França carregados com tropas da SS em operações de
retaliação contra a ação da resistência francesa.
Par a invasão da Inglaterra, planejada para
setembro de 1940, Hitler havia previsto a utilização de planadores,
especificamente de Me 321 Giant, com carga útil de 23 toneladas (200
soldados equipados). Com a desistência da invasão, o Giant foi equipado
com os seis motores e convertido para um transporte de cargas (ME 323). O
ME 321 possuía envergadura de 55m, comprimento de 28,15 e de altura
total de 6,8m na cabine de comando.
Sem duvida alguma, o estrondoso sucesso da tomada
do forte Eben Emeal pelos alemães foi determinante para a criação,
pelos aliados, das suas divisões aerotransportadas.
Na Inglaterra, em junho de 1940, Churchill
solicitara a seus comandados a formação de divisões aerotransportadas
com planadores e, pelo menos, cinco mil pára-quedistas, Divergências de
opinião entre militares ingleses fizeram com que somente em novembro de
1941 fosse finalmente formada a divisão na Inglaterra.
(muito semelhantes aos alemães DFS 230), porém,
serviram apenas para treinamento, nunca tendo entrado em combate. Foram
os Horsa, produzidos em grande quantidade no final de 1942, os
planadores ingleses mais utilizados em combate. Havia ainda um terceiro
tipo de planador de combate inglês, o Hamilcar, capaz de transportar um
tanque de guerra de sete toneladas.
Burocracia nos EUA
Nos estados Unidos, mesmo após a invasão da ilha
de Creta pelos planadores alemães, houve uma demora muito longa para
iniciarem-se os programas de desenvolvimento dos planadores de combate.
Contribuíam para isto a burocracia e as divergências entre os comandos
militares, além do fato de que o vôo com planadores ainda era pouco
difundido nos Estados Unidos e muito pouco se sabia sobre a sua
tecnologia e operação. Nos altos escalões militares americanos não havia
nenhum piloto de planador, o que dificultava ainda mais as coisas.
Somente na segunda metade de 1941, um piloto
privado foi comissionado para dirigir o programa norte-americano de
planadores de combate. Grande parte do treinamento dói deito com
planadores esportivos cedidos pelos poucos clubes particulares
existentes e com aviões (puper cub e outros) que tiveram seus motores
substituídos por lastros.
Mas foi apenas a partir da metade de 1943 que o
Waco era capaz de transportar 15 soldados totalmente equipados,
inclusive com piloto e co-piloto, um jipe ou canhão Howitzer de 75 mm
além de diversas combinações de carga.
Havia uma versão de planador-hospital com seis
leitos para a evacuação dos feridos, além de uma versão oficina, com
ferramentas e bancadas especialmente montadas no seu interior.
Os Waco CG 4ª eram rebocados por aviões DC3 (C47 e
C47A) e Curtis Comander C56, em reboques duplos ou simples. Para
resgatar planadores a partir de terrenos curtos e não reparados, foi
desenvolvido um método especial. O planador era “descolado” por um C47
que passava em vôo rasante e apanhava o cabo de reboque com um guincho
especial. Um guincho de freio, dentro do C47, amortecia a aceleração,
limitando-a a 7/10 da aceleração da gravidade em seis segundos.
Outros modelos de planadores Americanos foram
construídos, porém, em menor quantidade, tais como o CG13A (132
unidades) e o XCE10A. Esse último, cujo protótipo foi testado em agosto
de 1945, fora projetado para uma possível invasão ao Japão transportando
40 soldados ou um tanque M22 ou um canhão de 155 mm.
Os planadores de combate são hoje peças de museu.
Existem apenas uns poucos exemplares completos nos Estados Unidos,
Inglaterra, França e Holanda. A literatura histórica e técnica a
respeito dos planadores e dos combates, dos quais participam, também é
escassa. Contudo, o papel desempenhado pelos planadores de combate na
Segunda Grande Guerra é hoje reconhecido talvez até com mais justiça do
que naquela época.
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