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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A Saga dos Planadores na Segunda Guerra

Texto: Jorge Ricardo González.


"...Com envergadura de mais de 33 metros e capacidade para até 1.270kg de carga útil, eles tranpostaram..."

Talvez o maior interesse do leitor por esta matéria esteja no fato de que ela trata de uma espécie já extinta: os planadores de combate. Sua utilização estendeu-se por cerva de cinco anos em missões especificas durante a segunda grande guerra e depois disso jamais se teve noticia de que algum planador do tipo tivesse novamente decolando, nem mesmo nos conflitos posteriores.
A evolução da tecnologia militar, das táticas de guerra, dos aviões, dos mísseis, do pára-quedismo e principalmente a invenção e a rápida evolução dos helicópteros tornara obsoleta a utilização dos planadores de combate.
Na segunda grande guerra, contudo, os planadores viveram seus dias de gloria, como o único meio capaz de transportar para assalto em território inimigo grupos de soldados completamente equipados (prontos para imediatamente entrar em combate) e ainda munições, suprimentos, jipes, caminhões leves e até tanques de guerra.
Os pára-quedistas da época só podiam transportar uma quantidade muito limitada de equipamentos individuais (armas, munições, suprimentos) e aterrissavam longe uns dos outros, dispersos pelo vento e pelas condições imprecisas de lançamentos. Isso impedia que entrassem rapidamente em combate com um grupo organizado.
Em varias missões em que foram utilizados, os planadores de combate, por não produzirem qualquer ruído, adicionaram maior surpresa aos ataques.
Construídos com madeira, tubos de aço soldados e revestidos com lona, eram lentos e totalmente desprotegidos do fogo antiaéreo e até mesmo dos tiros de armas leves. Por isso ganharam apelidos carinhosos, tais como “iscas para fogo antiaéreo” e “caixões voadores”.
No lado aliado, os pilotos de planadores nunca tiveram o seu valor reconhecido, nem mesmo após a guerra. Devido às circunstancias da época, foram aceitos para essa missão alunos reprovados das escolas aeronáuticas, pilotos ou alunos que haviam sido reprovados nos exames médicos e até mesmo homens de mais idade e que não haviam sido aceito como pilotos de caça ou de bombardeiros.
O treinamento que lhes proporcionavam era na grande maioria das vezes insuficiente e falho. Apenas uma minoria recebeu o necessário treinamento de infantaria, pois uma vez pousado o planador, piloto e co-piloto se viam obrigados a participar dos combates em terra!
Os pilotos de planadores tiveram de enfrentar, em vôos só de ida, além do fogo inimigo, o mau tempo, missões mal planejadas pelos superiores, revoques realizados por pessoas totalmente inexperientes e despreparados, planadores que perdiam pedaços durante o vôo, cabos de reboque defeituosos que se rompiam a falta de treinamento para combate em terra e em algumas ocasiões até mesmo o fogo antiaéreo dos próprios aliados. Muitas das missões resultaram em enormes perdas, não apenas de planadores, como também de homens, algumas delas registraram baixas de 50% do efetivo.
Tanto no caso dos alemães como no dos americanos e ingleses, este tipo de aeronave pertencia às divisões aerotransportadas e muitas missões contaram com a participação conjunta de planadores e pára-quedas.
Alemanha Pioneira
Os planadores de combate foram utilizados pela primeira vez pelos alemães, que os desenvolveram significativamente, sobretudo após a Primeira Grande Guerra, uma vez que haviam sido praticamente impedidos de utilizar aviões a motor por força do Tratado de Versalhes.
Nesse meio tempo, entre 1932 e 1935, a Bélgica havia construídos um forte com objetivo de evitar as invasões alemães. Escavando na rocha e com paredes de concreto de 1,5m de espessura, o forte Eben Emael era praticamente subterrâneo, com guarnições alojadas muitos metros abaixo do nível do solo e suprimento para dois meses. Pelo lado de fora, eram visíveis apenas uma área gramada com cerca de mil metros de comprimento e 700 na parte mais larga, as cúpulas de concreto da artilharia e as trincheiras para a infantaria. O forte era considerado inexpugnável.
Elaborado o plano – Operação Granito – e após cuidadosa preparação, na madrugada de 10 de maio de 1940, os alemães atacaram o Eben Emael com planadores modelo DFS 230, nove deles foram rebocados por aviões JU-52, dos quais se desligaram sobre a Holanda, próximos à fronteira Belga e ao forte.
Não tendo sido detectados pelos aparelhos amplificadores de som e pouco visíveis ao amanhecer os planadores pousaram sobre o forte sem serem percebidos. Os alemães dominaram a guarnição externa do forte (os canhões das torres não tinham ângulo para atirar sobre o teto do próprio forte!) e explodiram as torres com cargas especiais recém-desenvolvidas.
No dia seguinte, a infantaria alemã chegou cruzando a Holanda. O forte estavam dominando por fora e a guarnição interna (o total era de 850 homens), que havia sofrido pesadamente os efeitos das explosões.
Das torres, rendeu-se em seguida. Dos 78 alemães que pousaram e dominaram o forte, apenas seis morreram.
Os planadores DFS 230 utilizados tinham as seguintes características básicas:
-Iniciaram os testes em janeiro de 1937
-Um só piloto
-Envergadura: 22m
-Comprimento: 11,4m
-Velocidade de reboque: 120mph (193 km/h)
-Quantidade fabricada: 2.230 unidades
-Carga útil: 1.270kg
-Peso bruto: 2.090kg
-Fuselagem em tubos de aço, revestida com tecido de dope.
-Asas de madeira revestidas com compensado
-Spoilers na parte superior das asas eram largadas após a decolagem só patim para pouso, sob a fuselagem.
Os planadores DFS 230 foram ainda utilizados em diversas missões, além da Operação Granito:
Operação Aço, Concreto e Ferro, quando foram tomadas três pontes no rio Meuse.
Abril de 1942: seis DFS 230 (36 homens) pousaram junto à ponte do canal de Corinto, tomando-a dos ingleses e gregos.
20 de maio de 1941: Operação Mercúrio na invasão alemã da ilha de Creta – 75 DFS 230 e pára-quedistas.
As perdas alemãs durante a invasão de Creta somaram cinco mil homens. Hitler ordenou então que não fossem mais utilizadas operações aerotransportadas em larga escala.
Mesmo assim, os alemães utilizaram ainda planadores nas seguintes missões:
12 de setembro de 1943: resgate de Mussolini com planadores na montanha Abruzzi, a 100 km a noroeste de Roma, onde estava prisioneiro da policia italiana.
21 de julho de 1944: Planadores pousaram em vários pontos da França carregados com tropas da SS em operações de retaliação contra a ação da resistência francesa.
Par a invasão da Inglaterra, planejada para setembro de 1940, Hitler havia previsto a utilização de planadores, especificamente de Me 321 Giant, com carga útil de 23 toneladas (200 soldados equipados). Com a desistência da invasão, o Giant foi equipado com os seis motores e convertido para um transporte de cargas (ME 323). O ME 321 possuía envergadura de 55m, comprimento de 28,15 e de altura total de 6,8m na cabine de comando.
Sem duvida alguma, o estrondoso sucesso da tomada do forte Eben Emeal pelos alemães foi determinante para a criação, pelos aliados, das suas divisões aerotransportadas.
Na Inglaterra, em junho de 1940, Churchill solicitara a seus comandados a formação de divisões aerotransportadas com planadores e, pelo menos, cinco mil pára-quedistas, Divergências de opinião entre militares ingleses fizeram com que somente em novembro de 1941 fosse finalmente formada a divisão na Inglaterra.
(muito semelhantes aos alemães DFS 230), porém, serviram apenas para treinamento, nunca tendo entrado em combate. Foram os Horsa, produzidos em grande quantidade no final de 1942, os planadores ingleses mais utilizados em combate. Havia ainda um terceiro tipo de planador de combate inglês, o Hamilcar, capaz de transportar um tanque de guerra de sete toneladas.
Burocracia nos EUA
Nos estados Unidos, mesmo após a invasão da ilha de Creta pelos planadores alemães, houve uma demora muito longa para iniciarem-se os programas de desenvolvimento dos planadores de combate. Contribuíam para isto a burocracia e as divergências entre os comandos militares, além do fato de que o vôo com planadores ainda era pouco difundido nos Estados Unidos e muito pouco se sabia sobre a sua tecnologia e operação. Nos altos escalões militares americanos não havia nenhum piloto de planador, o que dificultava ainda mais as coisas.
Somente na segunda metade de 1941, um piloto privado foi comissionado para dirigir o programa norte-americano de planadores de combate. Grande parte do treinamento dói deito com planadores esportivos cedidos pelos poucos clubes particulares existentes e com aviões (puper cub e outros) que tiveram seus motores substituídos por lastros.
Mas foi apenas a partir da metade de 1943 que o Waco era capaz de transportar 15 soldados totalmente equipados, inclusive com piloto e co-piloto, um jipe ou canhão Howitzer de 75 mm além de diversas combinações de carga.
Havia uma versão de planador-hospital com seis leitos para a evacuação dos feridos, além de uma versão oficina, com ferramentas e bancadas especialmente montadas no seu interior.
Os Waco CG 4ª eram rebocados por aviões DC3 (C47 e C47A) e Curtis Comander C56, em reboques duplos ou simples. Para resgatar planadores a partir de terrenos curtos e não reparados, foi desenvolvido um método especial. O planador era “descolado” por um C47 que passava em vôo rasante e apanhava o cabo de reboque com um guincho especial. Um guincho de freio, dentro do C47, amortecia a aceleração, limitando-a a 7/10 da aceleração da gravidade em seis segundos.
Outros modelos de planadores Americanos foram construídos, porém, em menor quantidade, tais como o CG13A (132 unidades) e o XCE10A. Esse último, cujo protótipo foi testado em agosto de 1945, fora projetado para uma possível invasão ao Japão transportando 40 soldados ou um tanque M22 ou um canhão de 155 mm.
Os planadores de combate são hoje peças de museu. Existem apenas uns poucos exemplares completos nos Estados Unidos, Inglaterra, França e Holanda. A literatura histórica e técnica a respeito dos planadores e dos combates, dos quais participam, também é escassa. Contudo, o papel desempenhado pelos planadores de combate na Segunda Grande Guerra é hoje reconhecido talvez até com mais justiça do que naquela época.

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