Pesquisar este blog

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

AS ARTIMANHAS DO VENTO DE ENCOSTA

Texto: Jorge Ricardo Gonzalez



"As correntes ascendentes geradas nas encostas proporcionam prolongadas horas de vôo planado, mas é bom se prevenir contra as armadilhas do vento."

 
Pioneiros do vôo a vela na década de 20 lançavam seus rudimentares aparelhos na parte superior das encostas. Inicialmente, o lançamento era feito pelo próprio piloto (usando equipamento tipo “Hang-Glider”) ou então o planador era catapultado por cabos elásticos (sandow). Não se dispunha, na época, de outros métodos de lançamento e o reboque por avião, guincho ou automóvel somente seriam difundidos e consolidados anos mais tarde.
Esse fato explica porque a grande maioria dos lugares onde o vôo planado foi desenvolvido situa-se no alto de encostas, como wasserkuppe, na Alemanha, a “Harris hill” e Elmira o estado de Nova York e o “Morro da Borússia”, na cidade gaúcha de Osório, no Brasil. Nestes locais, os vôos de encosta iniciaram-se respectivamente em 1920,1930,1940.
A atração pelas encostas, porém, tinha uma razão a mais de ser. Os pioneiros logo descobriram que podiam sustentar-se nas correntes de ar ascendentes ali geradas e manter-se em vôo durante várias horas. A descoberta fez com que a técnica fosse desenvolvida antes mesmo que se dominassem os vôos em térmicas, em frentes de tempestade, etc.
Com o final da Segunda Grande Guerra, ficaram disponíveis inúmeros aeroportos militares desativados, aguçando o interesse dos que procuravam novas possibilidades de vôo planado. Como já abordamos em matérias anteriores a partir daí foram aperfeiçoadas as técnicas de reboque e o vôo com planadores ganhou novos horizontes, agora então livres das encostas
Impossível não admitir, porém, que as encostas propiciam vôos de instrução cômodos, e de longa duração e, portanto, mais baratos.


maior inclinação = ascendentes mais fortes/ perfis abruptos = ascendentes com turbulências / perfis irregulares = maiores turbulências

A Mecânica do Vento

O prazer de planar longas horas, entretanto, requer algum conhecimento de teorias eólicas. No vôo de encosta, por exemplo, os planadores utilizavam as camadas ascendentes orográficas ou ainda ascendentes dinâmicas. Tais ascendentes têm origem puramente mecânica sendo formada pela deflexão do vento para cima ou atingir obstáculos tais como montanhas, colinas ou falésias. As características dessas correntes dependerão basicamente da forma e do volume dos obstáculos, da velocidade do vento e da sua direção relativa ao obstáculo.
As correntes ascendentes formam-se a barlavento (lado que sopra o vento) da encosta , no lado oposto , denominado sotavento (onde o vento abandona a encosta), forma-se correntes descendentes e na maioria dos casos , fortes turbulências (“rotores”).
Não apenas o perfil vertical do obstáculo pe importante para determinas as características das ascendentes , das turbulências e das descendentes, mas também a sua forma no plano horizontal neste último plano, as concavidades aumentam as ascendentes , enquanto as formas convexas as enfraquecem .
Quatro regras básicas devem ser observadas:
A técnica adotada na ascendente orográfica é voar paralelamente a encosta, “caraguejando” conforme necessário. As curvas deverão ser feitas sempre contra o vento. Assim, e aproveitando-se todo o comprimento útil da encosta, o vôo descreverá repetidamente a figura de um longo número oito.
Quanto a velocidade a ser adotada no vôo, a de menor afundamento é a mais eficiente. Entretanto, se as condições do momento resultarem em um vôo muito próximo da encosta, deve-se voar com velocidades mais altas, pois mesmo sofrendo uma razão de afundamento maior, ter-se-á uma “reserva de potência” para enfrentar eventualidades.
Nas encostas onde já se voa há bastante tempo, as zonas de descendentes, as de turbulência e suas variações em função das condições do vento, são bem conhecidas. Em encostas desconhecidas, contudo, deve-se ter extrema cautela, uma vez que as regiões de turbulência e descendentes nem sempre são previsíveis teoricamente ou por semelhança com outros locais.
Para o vôo de encosta existem regras gerais às quais muitas vezes se somam regras particulares, cuja necessidade originou-se de características especiais, próprias da encosta em questão.
Quatro regras básicas devem ser sempre observadas:
Todas as curvas para inversão de sentido do vôo devem ser feitas contra o vento, “para fora” da encosta, Curvas feitas para o lado da encosta poderão levar o planador para zona de descendentes turbulentas (“rotor”) que sempre existem a sotavento da crista da encosta.
Nunca deve-se voar sobre um outro planador, evitando-se assim colisões.
As ultrapassagens devem ser feitas pelo lado da encosta. Isto é necessário para que o planador ultrapassado inicie uma curva contra o outro, resultando em colisão (as curvas sempre devem ser feitas contra o vento, afastando-se da encosta)
Planadores que se aproximam um do outro com sentidos contrários m devem desviar-se para a sua respectiva direita
A influência das ascendentes de encosta eleva-se acima da crista até aproximadamente um terço da altura total da encosta. Assim, em uma colina que possui 450 metros de altura, conseguir-se-á subir até cerca de 600 metros ou 150 acima da crista da encosta
Existem regiões privilegiadas, com encostas apropriadas e ventos que sopram na direção ideal durante maior parte do ano. Nestes locais com poucos minutos de reboque pode-se realizar voos planados de várias horas de duração independentemente de outros tipos de ascendentes como as térmicas, por exemplo. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário