Texto: Jorge Ricardo Gonzalez
"As
correntes ascendentes geradas nas encostas proporcionam prolongadas
horas de vôo planado, mas é bom se prevenir contra as armadilhas do
vento."
Pioneiros
do vôo a vela na década de 20 lançavam seus rudimentares aparelhos na
parte superior das encostas. Inicialmente, o lançamento era feito pelo
próprio piloto (usando equipamento tipo “Hang-Glider”) ou então o
planador era catapultado por cabos elásticos (sandow). Não se dispunha,
na época, de outros métodos de lançamento e o reboque por avião, guincho
ou automóvel somente seriam difundidos e consolidados anos mais tarde.
Esse
fato explica porque a grande maioria dos lugares onde o vôo planado foi
desenvolvido situa-se no alto de encostas, como wasserkuppe, na
Alemanha, a “Harris hill” e Elmira o estado de Nova York e o “Morro da
Borússia”, na cidade gaúcha de Osório, no Brasil. Nestes locais, os vôos
de encosta iniciaram-se respectivamente em 1920,1930,1940.
A
atração pelas encostas, porém, tinha uma razão a mais de ser. Os
pioneiros logo descobriram que podiam sustentar-se nas correntes de ar
ascendentes ali geradas e manter-se em vôo durante várias horas. A
descoberta fez com que a técnica fosse desenvolvida antes mesmo que se
dominassem os vôos em térmicas, em frentes de tempestade, etc.
Com
o final da Segunda Grande Guerra, ficaram disponíveis inúmeros
aeroportos militares desativados, aguçando o interesse dos que
procuravam novas possibilidades de vôo planado. Como já abordamos em
matérias anteriores a partir daí foram aperfeiçoadas as técnicas de
reboque e o vôo com planadores ganhou novos horizontes, agora então
livres das encostas
Impossível
não admitir, porém, que as encostas propiciam vôos de instrução
cômodos, e de longa duração e, portanto, mais baratos.
maior inclinação = ascendentes mais fortes/ perfis abruptos = ascendentes com turbulências / perfis irregulares = maiores turbulências
A Mecânica do Vento
O prazer de planar longas horas,
entretanto, requer algum conhecimento de teorias eólicas. No vôo de
encosta, por exemplo, os planadores utilizavam as camadas ascendentes
orográficas ou ainda ascendentes dinâmicas. Tais ascendentes têm origem
puramente mecânica sendo formada pela deflexão do vento para cima ou
atingir obstáculos tais como montanhas, colinas ou falésias. As
características dessas correntes dependerão basicamente da forma e do
volume dos obstáculos, da velocidade do vento e da sua direção relativa
ao obstáculo.
As correntes ascendentes formam-se
a barlavento (lado que sopra o vento) da encosta , no lado oposto ,
denominado sotavento (onde o vento abandona a encosta), forma-se
correntes descendentes e na maioria dos casos , fortes turbulências
(“rotores”).
Não apenas o perfil vertical do
obstáculo pe importante para determinas as características das
ascendentes , das turbulências e das descendentes, mas também a sua
forma no plano horizontal neste último plano, as concavidades aumentam
as ascendentes , enquanto as formas convexas as enfraquecem .
Quatro regras básicas devem ser observadas:
A técnica adotada na ascendente
orográfica é voar paralelamente a encosta, “caraguejando” conforme
necessário. As curvas deverão ser feitas sempre contra o vento. Assim, e
aproveitando-se todo o comprimento útil da encosta, o vôo descreverá
repetidamente a figura de um longo número oito.
Quanto a velocidade a ser adotada
no vôo, a de menor afundamento é a mais eficiente. Entretanto, se as
condições do momento resultarem em um vôo muito próximo da encosta,
deve-se voar com velocidades mais altas, pois mesmo sofrendo uma razão
de afundamento maior, ter-se-á uma “reserva de potência” para enfrentar
eventualidades.
Nas encostas onde já se voa há
bastante tempo, as zonas de descendentes, as de turbulência e suas
variações em função das condições do vento, são bem conhecidas. Em
encostas desconhecidas, contudo, deve-se ter extrema cautela, uma vez
que as regiões de turbulência e descendentes nem sempre são previsíveis
teoricamente ou por semelhança com outros locais.
Para o vôo de encosta existem
regras gerais às quais muitas vezes se somam regras particulares, cuja
necessidade originou-se de características especiais, próprias da
encosta em questão.
Quatro regras básicas devem ser sempre observadas:
Todas as curvas para inversão de
sentido do vôo devem ser feitas contra o vento, “para fora” da encosta,
Curvas feitas para o lado da encosta poderão levar o planador para zona
de descendentes turbulentas (“rotor”) que sempre existem a sotavento da
crista da encosta.
Nunca deve-se voar sobre um outro planador, evitando-se assim colisões.
As ultrapassagens devem ser feitas
pelo lado da encosta. Isto é necessário para que o planador
ultrapassado inicie uma curva contra o outro, resultando em colisão (as
curvas sempre devem ser feitas contra o vento, afastando-se da encosta)
Planadores que se aproximam um do outro com sentidos contrários m devem desviar-se para a sua respectiva direita
A influência das ascendentes de
encosta eleva-se acima da crista até aproximadamente um terço da altura
total da encosta. Assim, em uma colina que possui 450 metros de altura,
conseguir-se-á subir até cerca de 600 metros ou 150 acima da crista da
encosta
Existem regiões privilegiadas, com
encostas apropriadas e ventos que sopram na direção ideal durante maior
parte do ano. Nestes locais com poucos minutos de reboque pode-se
realizar voos planados de várias horas de duração independentemente de
outros tipos de ascendentes como as térmicas, por exemplo.
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