FRANCIS GARY POWERS
Existem dois tipos de pilotos, aqueles
que levam em seu sangue a necessidade de voar, pelas mesmas razões que
precisam dormir, comer ou respirar, e aqueles que o fazem apenas pela tarefa,
por obrigação ou por não ter outra alternativa. Esses últimos
normalmente chegam à profissão por acaso ou outra forma não planejada.
Os primeiros freqüentemente tem a
inquietude desde pequenos, quando viam nos aviões algo notável, místico,
sublime, talvez muitos destes começaram desde pequenos a construir
modelos de aeroplanos, ou acumulando fotos e pôsteres ou qualquer outra
coleção com motivos aéreos. Conheciam as especificações e dados de
qualquer avião com riqueza de detalhes.
Quando crescem e têm a sorte de realizar seu sonho de criança, desfrutam plenamente do seu trabalho e sentem-se os homens mais sortudos do planeta.
Os pilotos são uma classe à parte de
humanos, eles abandonam todo o mundano para purificar seu espírito no
céu, e somente voltam à terra depois de receber a comunicação do
infinito.
Esse grupo conhece a diferença entre
voar para sobreviver e sobreviver para voar. A Aviação os ensina orgulho
como também humildade e apesar de que voar é uma magia, eles caem
voluntariamente vítimas de seu feitiço. Quando estão na terra, durante
dias ensolarados, observam continuamente o firmamento com saudades de
estar ali, durante dias chuvosos e nublados revêem os procedimentos de
voo em suas mentes. O piloto sabe que o melhor simulador de vôo esta em
si mesmo, em sua imaginação, em sua atitude, porque a mente do piloto
esta sempre acessível a elementos novos e compreende que para voar é
preciso acreditar no desconhecido.
No mais, os pilotos são homens lógicos,
calmos e disciplinados, que pela necessidade precisam pensar claramente,
de outra maneira se arriscam a perder violentamente a vida ao sentar-se
na cabine. O verdadeiro piloto não amarra seu corpo ao avião, pelo
contrário, através do arnês ele amarra o avião em suas costas, em todo
seu corpo. Os comandos da aeronave passam a ser uma extensão de sua
personalidade, essa simples ação une o homem ao aparelho na simetria de
uma só entidade, numa mistura única e indecifrável, cada vibração, cada
som, cada cheiro tem sentido e o piloto os interpreta apropriadamente.
Não há duvida de que o motor é o coração
do avião, mais o piloto é a alma que o governa. Os pilotos não vêem
seus objetos de afeição como máquinas, ao contrário, são formas vivas que respiram e possuem diferentes personalidades, em alguns momentos falam e até riem com eles.
Esses seduzidos mortais percebem os
aviões com uma beleza incondicional, porque nada estimula mais os
sentidos de um Aviador que a forma esquisita de uma aeronave, não podem
evitar, estão infectados pelo feitiço, e viverão o resto de suas vidas
contemplados pela magia de sua beleza.
Para o piloto perceber um avião é como encontrar um familiar perdido, uma e outra vez.
Quando o destino trágico mostra sua
inexorável presença e vidas se perdem em acidentes a essência do piloto
se entristece pelo acontecido, mais não poderá evitar, talvez por
infinitesimal segundo, que a sombra de seu pensamento volte aos
aparelhos, e um golpe de afeição pelo amigo caído seja inevitável.
Para o Aviador o som dos pistões é uma
bela sinfonia, o som de um jato a síntese da força. Aviões perigosos não
existem, somente não são pilotados adequadamente, para eles os
aeroportos são altares ao talento humano. Ali se realizam diariamente os
desafios e os milagres frente às energias da natureza e a força da
gravidade. São lugares sagrados, onde o ritual de voar se exalta e se
glorifica, de onde caminhos e fronteiras se encontram e o mundo fica
pequeno, nos que se chora de alegria e também de tristeza, onde nascem
esperanças e sucumbem ideais, onde o som do silêncio habitam as
lembranças.
No ar o piloto está em seu elemento, em
sua casa, ao que pertence, é ali que ele se liberta da escravidão que o
sujeitam na terra. É um dom de Deus que ele aceita com respeito e
alegria. Este privilégio lhe permite escalar as prodigiosas montanhas do
espaço, e alcançar dimensões no firmamento que outros mortais não
alcançarão. Este presente permite apreciar a perfeição do criador e o
absurdamente pequeno humano.
Permite-lhe igualmente reconhecer que
ninguém há visto a montanha dali, como sua sombra do céu. Distinguir uma
pessoa que deu sua alma à Aviação é fácil, em meio à multidão quando um
avião passa seu olhar volta-se imediatamente ao firmamento buscando-o e
não descansará até que o veja. Não importa quantas vezes haja visto o
mesmo avião, é preciso vê-lo novamente, é algo inconsciente e
espontâneo. Os pilotos talvez possam explorar os elementos físicos do
vôo, mas descrever o que ocasiona sua existência é impossível porque
explicar a magia de voar esta além das palavras.
Francis Gary Powers (17 de agosto de 1929 — 1º de agosto de 1977) foi capitão da
Força Aérea dos Estados Unidos. Era
o piloto norte-americano do avião espião U-2, abatido a tiros enquanto
sobrevoava a União Soviética, em 1960, causando assim a “Crise do
U-2″. Nasceu em Burdine, Kentucky, e cresceu em Pound, Virgínia, cidade
na fronteira de Virgínia com Kentucky. Depois de graduar-se no Milligan
College, Tenesse, Gary alistou-se na Força Aérea dos Estados Unidos,
em 1950.
Dica: Aviação PRF
Fonte: Site Piloto Policial
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