Baseado
em vários equipamentos de rádio-auxílio e visuais, o ILS demonstrou ser
seguro, eficaz e fácil de utilizar, tanto que imperou, por mais de sete
décadas, nos principais aeroportos do mundo inteiro, e ainda impera.
Uma das primeiras cartas de pouso por ILS (1940) |
Todavia, o ILS está
longe de ser perfeito. Seu principal componente, o Localizador, uma
antena que transmite um sinal direcional de rádio em VHF (Very High Frequency),
embora seja altamente preciso, está sujeito a interferências de ondas
em VHF emitidas de transmissores "piratas". A tecnologia de transmitir
em VHF é facilmente acessível, e qualquer estudante de ensino médio, um
pouco mais habilidoso, consegue construir um transmissor, em sua própria
casa, gastando muito pouco dinheiro. Isso representa um risco
considerável para um piloto que depende fundamentalmente desse sinal
para chegar, praticamente às cegas, alinhado à pista de pouso.
Antenas de Localizador de ILS |
O ILS é, também, um
equipamento muito dispendioso, e que exige amplas áreas livres (o
chamado "gabarito de proteção") ao redor da pista e da área de
aproximação, para evitar o risco, bastante elevado, dos sinais se
refletirem em um obstáculo e se transformarem em "sinais fantasmas" para
as aeronaves.
Sem melhor opção, há mais de
setenta anos, o ILS equipa a grande maioria dos aeroportos
internacionais e de maior movimento comercial. Seu alto custo e sua
exigência por espaço físico livre, no entanto, limita ou impede sua
aplicação em aeroportos menores ou com restrições de gabarito causados
por topografia, construções ou interferência do tráfego de outros
aeroportos nas vizinhanças.
Através dos anos, diversas
tecnologias foram aplicadas para tentar superar ou, pelo menos, melhorar
o ILS, utilizando sinais em microondas (MLS (Microwave Landing System),
por exemplo , mas nenhuma dessas tecnologias chegou sequer a ameaçar a
supremacia absoluta do ILS, e foram aplicadas, eventualmente, somente em
alguns aeroportos muito problemáticos, ou então de modo puramente
experimental.
Satélite de GPS |
A introdução dos
sistemas de navegação por satélite, a partir da década de 1990, trouxe
grande precisão à navegação aérea. Hoje, a Aviação Civil emprega um
sistema de navegação global por satélite, o GNSS (Global Navigation Sattelite System), atualmente baseado em dois sistemas militares de navegação, o americano GPS (Global Positioning System) e o russo Glonass (Global Navigation Sattelite System).
Os sistemas de navegação por
satélite são extremamente precisos, mas também possuem suas limitações.
Devido à sua origem militar, sua precisão total está restrita aos
usuários militares que os criaram. As frequências de precisão dos
satélites são codificadas e só podem ser utilizadas pelos militares. Os
usuários civis, portanto, acabam arcando com problemas como a refração
dos sinais dos satélites na atmosfera e a interferência ionosférica, que
reduzem a precisão dos equipamentos.
Os erros causados pela refração e
pela interferência ionosférica podem ser pouco importantes na navegação
horizontal, mas são críticos quando se trata de navegação vertical. Os
satélites, quando captados, em número suficiente, pelos receptores,
podem dar uma posição tridimensional para as aeronaves, em termos de
latitude, longitude e altitude. Os maiores erros do sistema referem-se,
geralmente, à altitude, o que invibiliza, na prática, os sistemas de
aproximação e pouso de precisão baseados exclusivamente em satélites.
Aproximação em condições marginais de visibilidade |
Qual é a solução para
resolver tais problemas? Não é tão difícil. Há muitos anos os operadores
de aeronaves agrícolas, por exemplo, têm utilizado uma tecnologia
chamada DGPS, que utiliza uma antena terrestre para simular um satélite e
corrigir os seus sinais utilizando um sinal de rádio praticamente
isento de refração e interferência ionosférica. O DGPS aumenta
drasticamente a precisão do GPS, na navegação horizontal,
possibilitando, por exemplo, aplicação de defensivos agrícolas com
notável eficiência e economia.
Processador do GBAS |
A precisão requerida
para aproximações de precisão, com o uso de satélites, pode ser
aumentada, portanto, através do uso de uma antena em terra que simula um
satélite, ou seja, um pseudo-satélite. Outros dispositivos de segurança
podem ser adicionados, para verificar a acurácia dos equipamentos e a
precisão dos sinais, necessários para garantir a segurança das aeronaves
que executam aproximações com o sistema, dentro das margens de
segurança atualmente oferecidas pelos ILS.
O sistema que consiste de
antenas de correção e de verificação dos sinais, que aumenta a precisão
da navegação por GNSS a ponto do mesmo poder substituir o ILS foi
denominado, pela ICAO - International Civil Aviation Organization, como GBAS (Ground-Based Augmentation System),
ou, traduzindo literalmente, sistema de aumentação baseado em solo. A
"aumentação" é, na verdade, a correção dos sinais dos satélites para
seus erros de refração e interferência ionosférica, por antenas
instaladas no solo, no aeroporto.
Esquema do GBAS |
Quais são as vantagens
do GBAS em relação ao ILS? Em primeiro lugar, vem o custo. Instalar um
GBAS é muito mais barato que instalar um ILS, o que possibilita sua
instalação em aeroportos menores e/ou com baixa demanda de aeronaves,
passageiros ou cargas. Outra vantagem é que uma única instalação do GBAS
pode ser aproveitada por todas as cabeceiras de pista do aeroporto, e
mesmo fora dele, em outros aeroportos situados no seu entorno e dentro
do alcance proporcionado pelas antenas em terra. Finalmente, o GBAS não
depende de uma única rampa reta e perfeitamente alinhada com a pista
proporcionada pelo Localizador e pelo Glide Slope do ILS, pois a
aproximação pode ser feita em curva, ou em pistas paralelas, e de
qualquer direção possível, com toda segurança.
O GBAS, aliás, não necessita
das grandes áreas livres de obstáculos essenciais para o ILS, e mesmo
para sistemas de menor precisão, como o VOR.
Instalação do GBAS no Aeroporto Braunschweig-Wolfsburg, Alemanha, notavelmente simples comparada a um ILS |
Um sistema GBAS consiste, basicamente, em:
1) Quatro receptores fixos, instalados na proximidade das pistas, para receber os dados dos satélites de navegação GNSS;
2)
Um processador computadorizado, que faz as correções do GNSS e fornece
informações já devidamente ajustadas aos procedimentos de navegação;
3) Um transmissor em VHF (VDB - VHF Data Broadcast), também
instalado nas proximidades da pista, que transfere essas informações ao
cockpit das aeronaves, onde pode ser visulizado em um um display
semelhante ao utilizado para o ILS. Assim, o GBAS ajusta e corrige os
posicionamentos gerados pelos satélites e fornece guias verticais e
horizontais aos pilotos para as aproximações de precisão.
Antena de VDB |
No futuro, o sistema
poderá orientar saídas padrão por instrumentos, hoje dependentes de
auxílios-rádio convencionais, e até mesmo tráfego no solo, dentro do
aeródromo. Isso poderá relegar sistemas caros e complexos, como o radar,
a funções meramente coadjuvantes.
Atualmente, o GBAS encontra-se devidamente certificado pela FAA - Federal Aviation Administration e pela JAA - Joint Aviation Authority,
respectivamente as autoridades aeronáuticas dos Estados Unidos e da
Comunidade Européia, e alguns aeroportos na América do Norte e na Europa
já operam o GBAS. Por enquanto, o GBAS foi certificado para
aproximações de precisão Categoria I, que exige teto mínimo de 200 pés e
visibilidade horizontal de 800 metros, mas futuramente poderá ser
certificado para Categorias II e III, cujos mínimos meteorológicos são
sensivelmente menores.
O Brasil está adotando, a partir desse ano de 2012, o sistema CNS/ATM (Communication, Navigation and Surveillance/Air Traffic Management),
que será, em breve, o sistema padrão de navegação, comunicação e
vigilância do espaço aéreo mundial. Nesse ambiente, o sistema GBAS
começa a despontar com substituto do ILS e outros sistemas de navegação
até agora em uso.
Transmissor de VDB, em VHF |
O DECEA - Departamento
de Controle do Espaço Aéreo, do Comando da Aeronáutica, adquiriu um
sistema GBAS certificado pela FAA dos Estados Unidos, e o instalou, de
forma experimental, no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de
Janeiro, em 2011. Tal instalação visa certificar o GBAS para uso nos
aeroportos brasileiros, para complementar ou mesmo substituir os ILS.
Como é um país tropical, o
território brasileiro está sujeito a fenômenos de interferência
ionosférica muito mais intensos que os países situados em latitudes mais
altas. A instalação experimental no Galeão vai definir padrões de
utilização e segurança do GBAS em latitudes baixas, em um prazo de
poucos anos.
O Tenente-Coronel Aviador
Ricardo Elias Consedey, Chefe da Divisão de Gerenciamento doe Navegação
Aérea, do Subdepartamento de Operações do DECEA, afima: "Na nossa
região, um dos principais distúrbios da ionosfera – conhecido como
Irregularidade Equatorial ou Bolhas de Plasma – caracteriza-se pelo
deslocamento das chamadas ‘bolhas’ de baixa ionização'; elas podem
provocar atrasos no sinal do satélite, gerando erro no cálculo da
posição GPS. O Brasil, como pioneiro na implementação deste tipo de
tecnologia nas regiões geoequatoriais, tem o desafio de investigar o
impacto dos fenômenos ionosféricos da área nos sinais de navegação
transmitidos pelo GBAS. Para tanto, a estação será submetida a testes
de desempenho durante o ápice do ciclo de atividade solar – que
ocorrerá nos próximos anos – de modo a garantir a segurança de sua
utilização”, afirma o oficial.
Tendo em vista o contínuo
crescimento do tráfego aéreo no Brasil, é de se esperar, em médio prazo,
a certificação do GBAS para a maioria dos aeroportos brasileiros,
alguns dos quais atualmente nem têm ILS, e que sofrem com atrasos e
cancelamentos de voos por condições meteorológicas desfavoráveis.
Fontes: ICAO, NASA, DECEA, site Asas Brasil, NEC
Fonte: Jonas Liasch Blog cultura Aeronáutica
Fonte: Jonas Liasch Blog cultura Aeronáutica
Muito boa a matéria. Direta, objetiva e explicativa. Vamos ver qual o futuro desse GBAS. Aqui na Amazônia agente voa ainda com NDB, e olhe lá! Até chegar essa tecnologia pra gente, vai tempo.
ResponderExcluirAbraços!
É Ricardo! enquantos em muitos países por ai ja se voa por GPS, aqui no Brasil a realidade é outra, GPS para nos é instrumento auxiliar de navegação e ainda mantemos os velhos ndb e vor no país inteiro. Enfim, vamos esperar para ver no que vai dar.
ResponderExcluirOlá, Rafael:
ResponderExcluirOs sistemas de navegação aérea necessáriamente devem ter confiabilidade e CONTINUIDADE do serviço;
O sistema GPS (a constelação de satélites e as freqüências criptografadas) pertencem ao DoD (Departamento de Defesa) norte americano.
Se você ler no manual de QUALQUER receptor GPS, encontrará uma informação logo no preâmbulo a respeito de que O SINAL DE GPS NÃO É GARANTIDO PARA UTILIZAÇÃO PARA QUALQUER OUTRO FIM senão permitir aos norte americanos suas operações militares.
O FAA (que por coincidência é norte americano também) criou o WAAS para ser utilizado na "mainland" (pátria dos gringos), em uso civil para PROCEDIMENTOS DE NÃO PRECISÃO.
Acho que não preciso te explicar melhor porque EM QUALQUER OUTRO PAÍS QUE NÃO SEJA OS EEUU, O GPS NÃO PODE SER UTILIZADO PARA NAVEGAÇÃO AÉREA.
Na dúvida, melhor tentar o green card ...
Obrigado pelo comentário! nada melhor do que um expecialista no assunto para nos esclarecer algumas duvidas a respeito dos tramites aeronáuticos Brasileiro.
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