Até a metade da década de 1950, o Ártico e a Antártica eram lugares misteriosos e praticamente inexplorados, e nenhuma rota da aviação comercial passava por lá, embora já se soubesse que era o caminho mais curto para várias rotas ligando Europa e Ásia e Américas e Ásia, por exemplo, devido ao fato da Terra ser esférica. Isso pode ser verificado com um simples pedaço de barbante colocado em cima de um globo.
A primeira empresa aérea a explorar comercialmente a rota polar foi a SAS - Scandinavian Airlines System, da Suécia. Em 1954, a SAS inaugurou uma rota ligando a Europa a Costa Oeste dos Estados Unidos via Groenlândia, reduzindo mais de 900 Km o percurso em relação à rota antiga, que passava por New York.

Na década de 1950, a rota polar da Europa para a Ásia era ainda atraente devido ao fato da Rússia bloquear rotas ao norte da Ásia, forçando as companhias aéreas a navegar de Londres a Tokyo, por exemplo, passando pela Índia, vôos que levavam 50 horas naquela época.
O que torna as rotas transpolares tão especiais não são as condições atmosféricas. A meteorologia no Ártico, por exemplo, é bastante estável para uma aeronave voando em cruzeiro. O frio não é muito maior que em outras regiões do globo e praticamente toda a nebulosidade e as turbulências ficam abaixo de 20 mil pés.
Na verdade, a maior dificuldade de se voar nas regiões polares é a dificuldade de se orientar. Para começar, as bússolas não funcionam direito, devido à proximidade do Polo Magnético. Todas as noções de direção que o piloto possuem tornam-se praticamente sem sentido nessa região. No Polo Norte propriamente dito, não existe Norte. Tampouco existem Leste e Oeste, toda direção é Sul, para qualquer lugar do mundo em que se queira ir.
Junte-se essa dificuldade de orientação a uma grande dificuldade de se ter uma noção do tempo: acima do Círculo Polar, o Sol nasce e se põe só uma vez por ano. Como toda direção é Sul, o Sol sempre estará no Sul, e é sempre meio-dia. Também pode ser qualquer hora que se quiser, pois todos os fusos horários se encontram no Polo.
O jornalista Wolfgang Liegewiesche, que participou de um dos vôos de treinamento da SAS na época da introdução dos voos pioneiros sobre a rota polar, entre Fairbanks, no Alaska, e Bodö, na Suécia, fez uma interessante descrição da sua experiência: "A primeira coisa de que perdi noção foi o tempo. Quando decolamos de Fairbanks a tarde já ia avançada e o sol estava baixo do lado do poente. Ali, o sol começou a fazer diabruras. Quando tocou no horizonte, parou; a seguir, durante uma hora mais ou menos como que nos acompanhou, mantendo-se na mesma posição na ponta de nossa asa esquerda. E então subiu! Esse foi o momento mágico do voo. Pois onde o sol nasce é leste e quando o faz é de manhã. Assim, subitamente durante o jantar o oeste havia subitamente se transformado em leste e o entardecer tornara-se em manhã. Não haveria noite".
O problema de navegação existente nas rotas transpolares é, na verdade, uma criação humana. Os meridianos convergem todos no polo e o paralelo 90 graus torna-se um ponto devido a uma mera convenção dos homens. As cartas de navegação polar da SAS adotavam uma convenção diferente, abolindo-se simplesmente o polo e fazendo-se um quadriculado sobre a região polar, com o "norte" da quadrícula voltado para o Oceano Pacífico.

Atualmente, com o uso de navegação inercial e GPS, os problemas de navegação tornaram-se coisa do passado, e a rota polar é bastante utilizada para voos intercontinentais. Viajar nessa região hoje é confortável e oferece, ainda, a possibilidade de vislumbrar a vastidão do Ártico (ou da Antártica, rota bem menos frequentada) e a extrema beleza das auroras boreais (foto abaixo).

Fotos: Yevgeni Pashnin (Aurora Boreal vista do Boeing 747) e Gary Vincent (O Ártico visto de um Boeing 707). - Airliners.net
Mapa: Wikipedia
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